MILHARES DE CIDADÃOS ESTÃO DEIXANDO A CAPITAL DA ÍNDIA PARA FUGIR DA POLUIÇÃO

 

Para quem não tem condições de se mudar, opção é conviver com nível de poluição até 40 vezes acima do recomendado.

Além da Pandemia que já registou quase 300 mil de infectados nas últimas 24h, mesmo sendo terceiro país que mais já vacinou sua população contra o Covid-19, ficando atrás apenas da China e EUA, a Índia vive outro grande drama, a poluição atmosférica que deixa cidades inteiras quase invisíveis.

Com o fim do ano chega o inverno no hemisfério norte. Em Nova Deli, populosa capital da Índia, isso significa manhãs frias, noites frescas, tudo coberto com uma neblina tóxica que torna difícil respirar. É a “época da poluição”, que atinge seu pico em novembro e dezembro.

A concentração de partículas no ar consideradas nocivas para a saúde humana saltou neste ano para 40 vezes acima do nível recomendado pela Organização Mundial de Saúde. Elas se alojam profundamente nos pulmões e são relacionadas à ocorrência de hipertensão, doenças cardíacas, infecções respiratórias e câncer.

Uma reportagem do jornal português Público revela que a situação extrema está criando um crescente número de refugiados. É como o caso de Deepikah Bharadwaj que, depois do nascimento do filho em 2016, mudou-se para a cidade de Goa, a 1,6 mil quilômetros de sua terra natal, onde o ar é mais puro. 

“Sinto-me mal por não poder voltar à minha cidade natal, nunca mais”, disse Bharadwaj ao Público. “É um sentimento de perda permanente, como se um amigo tivesse partido sem dizer adeus”. O grupo de refugiados, como Bharadwaj, é pequeno. Poucos podem se dar ao luxo de deixar sua casa para buscar uma vida melhor próximo ao litoral. Mesmo intragável, a região metropolitana de Nova Deli, com cerca de cinco milhões a mais habitantes que a da cidade de São Paulo, recebe todos os dias um fluxo de pessoas que buscam oportunidades na capital indiana.

Os ricos fazem o que podem para reduzir a sua exposição ao ar poluído: compram máscaras, purificadores de ar para suas casas e planejam viagens nas férias para saírem da cidade com os filhos. Mas, para muitos, essas medidas não bastam. Quem pode busca uma vida melhor em Goa, Bangalore, Bombaim ou até o Canadá.

Enquanto isso, sofrem os mais pobres. Um relatório publicado pela Climate Trends, uma empresa indiana de pesquisa climática conclui que as pessoas expostas a riscos naturais em regiões de baixa renda têm sete vezes mais chances de morrer e seis vezes mais chances de serem feridas ou de terem que se deslocar, na comparação com populações equivalentes em regiões de alta renda.

O estudo, que analisou dados relativos à Índia, mostrou que a mudança climática ameaça criar um ciclo vicioso para os pobres do mundo, à medida que um clima mais quente leva mais pessoas à pobreza, aumentando sua vulnerabilidade aos impactos climáticos.

E não é só pela necessidade de respirar. Em agosto de 2017, as fortes chuvas de monção causaram inundações generalizadas em toda a Índia, Bangladesh e Nepal, causando pelo menos 1,2 mil mortes. Quatro estados do norte da Índia foram afetados pelas inundações, que danificaram cerca de 805.183 casas e afetaram 18 milhões de pessoas.

A Índia é fortemente dependente da monção de verão, que responde por cerca de 70% das chuvas. Como a mudança climática altera os padrões climáticos, o acesso à água na Índia enfrenta um futuro incerto. Mais de meio bilhão de indianos já enfrenta escassez aguda de água, de acordo com o governo do país. Além disso, 21 grandes cidades devem ficar sem água subterrânea até 2020, afetando 100 milhões de pessoas. “No momento em que os países se preparam para negociar em outra conferência sobre o clima, desta vez na Polônia, não é admissível deixar de prestar atenção à ciência”, alerta Aarti Khosla, diretora da Climate Trends. “Um aumento adicional nas temperaturas globais afetará mais as pessoas desfavorecidas e vulneráveis por meio da insegurança alimentar, preços mais altos dos alimentos, perda de renda e de oportunidades de subsistência, impactos adversos à saúde e deslocamentos da população. ”

O vice-governador de Delhi, Anil Baijal, apelou aos trabalhadores migrantes para não deixarem a cidade e garantiu-lhes a assistência do governo para cuidar de suas necessidades enquanto o bloqueio estiver em vigor.

 Por Geilson Souto e Galileu













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