Mundo - De ministro no Afeganistão a homem que entrega comida à domicílio na Alemanha. "Trabalho é trabalho"

Na Alemanha, o afegão Sayed Sadaat ganha a vida de bicicleta, a entregar comida ao domicílio. Era ministro no Afeganistão© JENS SCHLUETER / AFP / STORY BY HUI MIN NEO

Entre 2016 e 2018, esteve no Ministério das Comunicações no Afeganistão, mas cansou-se da corrupção no governo e deixou o cargo. Mais tarde, a falta de segurança levou-o a sair do país e agora ganha a vida de bicicleta entregando comida à domicílio.

A jornada de trabalho é de seis horas, de segunda a sexta-feira, e do meio-dia às 22h, nos fins de semana. Sayed usa um uniforme laranja, característico da empresa para a qual trabalha, e a mochila onde leva os pedidos dos seus clientes.

"Não há que ter vergonha. Trabalho é trabalho", diz Sayed Sadaat à AFP nas ruas de Leipzig, no leste da Alemanha, referindo que se trata de um trabalho como outro qualquer. "Se há emprego, é porque há uma determinada procura e alguém deve encarregar-se de satisfazê-la", explica este homem, de 50 anos.

A transição foi, no entanto, dura para Sadaat, cuja história pode servir de aviso para os milhares de afegãos que foram recentemente retirados do país pelas forças alemãs, após a chegada dos talibãs ao poder. Ou para aqueles que poderão chegar por conta própria em contingentes ainda maiores nos próximos meses, ou anos.

A barreira da língua

Os afegãos constituem o segundo maior grupo de migrantes na Alemanha, atrás dos sírios, com cerca de 210 mil pedidos de asilo registradas desde 2015.

Sayed Sadaat chegou meses antes do colapso do governo de Cabul frente aos talibãs. Entre 2016 e 2018 ocupou o Ministério das Comunicações do país. Deixou o cargo, porque estava farto da corrupção no governo e encontrou trabalho como consultor no setor de telecomunicações, relata.

Em 2020, a segurança começou a deteriorar-se. "Então decidi ir embora", recorda.

Sayed Sadaat era ministro no Afeganistão e agora, na Alemanha, ganha a vida a entregar comida ao domicílio© JENS SCHLUETER / AFP

Embora tenha nacionalidade afegã e britânica, optou por se instalar na Alemanha no final de 2020, pouco antes do Brexit dificultar essa viagem para os cidadãos do Reino Unido.

Na sua opinião, a economia alemã, a mais forte da Europa, oferece-lhe mais oportunidades na sua área. Mas, sem saber alemão, é difícil encontrar trabalho. E a pandemia de covid-19, as medidas de confinamento não facilitaram a aprendizagem de uma nova língua.

Agora dedica quatro horas por dia ao estudo do alemão, antes de sair com a bicicleta para fazer entregas pela empresa Lieferando. Ganha 15 euros por hora, o que ajuda a fazer face às suas necessidades, como o pagamento de 420 euros de renda.

HUI MIN NEO/AFP

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