Saúde - Johnson & Johnson fracassa no ensaio de vacina contra o HIV na África Subsaariana

Embora a vacina não tenha provocado efeitos colaterais graves, a sua eficácia na prevenção da infecção pelo HIV foi de pouco mais de 25%.

A tão esperada vacina contra o HIV desenvolvida pelo laboratório Johnson & Johnson não forneceu uma proteção adequada num ensaio clínico envolvendo jovens mulheres em cinco países da África Subsaariana, anunciaram esta terça-feira a empresa e as autoridades de saúde dos Estados Unidos.

Embora a vacina não tenha provocado efeitos colaterais graves, a sua eficácia na prevenção da infecção pelo HIV foi de pouco mais de 25%.

Esta notícia constitui uma grande frustração no combate a uma doença que atinge 38 milhões de pessoas em todo o mundo.

Após o anúncio do resultado, o chamado ensaio "Imbokodo", que começou em 2017 e incluiu cerca de 2600 mulheres entre os 18 e 35 anos, será interrompido e as participantes do Maláui, Moçambique, África do Sul, Zâmbia e Zimbábue serão informadas se receberam vacina ou placebo.

As mulheres representaram 63% das novas infecções por HIV em 2020 na África Subsaariana.

Algumas participantes receberam quatro injeções da vacina ao longo de um ano, enquanto outras receberam um placebo. Dois anos após a primeira injeção, 51 das 1079 participantes que receberam a vacina contraíram o HIV, em comparação com 63 entre as 1109 participantes que receberam placebo.

Paul Stoffels, diretor científico da Johnson & Johnson, agradeceu em comunicado às mulheres que participaram no ensaio e aos parceiros do laboratório.

"Apesar da nossa frustração por a vacina candidata não ter fornecido um nível suficiente de proteção contra a infeção pelo HIV no ensaio Imbokodo, o estudo fornecerá descobertas científicas importantes na busca contínua por uma vacina para prevenir o HIV", afirmou.

A vacina da Johnson & Johnson usou a tecnologia de "vetor viral", a mesma usada para a sua vacina contra a covid-19, em que um tipo comum de vírus, chamado adenovírus, é modificado para se tornar inofensivo e transportar informações genéticas que permitem ao corpo lutar contra o vírus-alvo.

"Devemos aplicar o conhecimento aprendido no ensaio Imbokodo e continuar os nossos esforços para encontrar uma vacina que proteja contra o HIV", declarou, por sua vez, Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, que está a cofinanciar o estudo.

O laboratório, porém, continuará com um ensaio paralelo, chamado Mosaico, em homens que têm relações sexuais com homens e indivíduos transexuais e que é realizado no continente americano e na Europa, onde a composição da vacina difere, assim como as mutações prevalentes do HIV. A conclusão deste estudo está prevista para março de 2024.

De acordo com o governo dos Estados Unidos, o laboratório Moderna deverá começar os testes em setembro de duas vacinas contra o HIV com recurso à nova tecnologia de RNA mensageiro, usada pela empresa de biotecnologia para a sua vacina contra a covid-19.

Nas quatro décadas seguintes aos primeiros casos do que viria a ser conhecido como Sida terem sido documentados, os cientistas fizeram grandes avanços no tratamento do HIV, transformando o que antes era uma sentença de morte numa patologia com a qual é possível viver.

Mas o acesso aos medicamentos não é igual em todas as zonas do globo e as vacinas têm sido, historicamente, as ferramentas mais eficazes na erradicação de doenças infecciosas.
DN/AFP
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