FILHOS - Pais separados: com quem as crianças ficam no Natal?

Especialistas orientam quanto aos combinados com os filhos em datas festivas e falam sobre "quedas de braço", mudanças de última hora e prejuízos à saúde das crianças; três mães contam seus planos para o fim de ano

Decisões sobre o tempo das crianças em datas comemorativas devem ser tomadas com base em no que é melhor para os filhos, sugerem especialistas

O número de divórcios bateu recorde na pandemia e muitos pais, recém-separados, ainda estão se acostumando à nova rotina sem o parceiro e com todas as novidades que uma separação pode trazer. Mas além da relação em si, é preciso pensar nas demandas do dia a dia, como quem leva as crianças para a escola, onde elas dormem e com quem ficam aos finais de semana. E com a chegada do fim de ano, há ainda que decidir sobre as festas deste período. Com quem as crianças vão passar o Natal? Para onde elas vão na virada do ano?

Alguns pais podem estranhar a ausência dos filhos, principalmente, os mais afeitos à tradição natalina em família. Mas há também quem não faça tanta questão assim de celebrar esses momentos. De um jeito ou de outro, é preciso organizar o tempo das crianças nesses eventos, pensando sempre no melhor para elas, ressaltam especialistas.

“Os pais devem refletir sobre o que é mais interessante para a criança, priorizando o lugar em que ela vai interagir melhor com outras crianças e parentes, e que tenha espaço adequado pra ela poder se divertir”, afirma o médico psiquiatra Alexandre Valverde. Ele diz que se a criança já tem idade para se colocar e pleitear suas vontades, isso deve ser levado em consideração. “Se ela já fala, consegue se expressar e dizer quais são suas preferências, é importante ouvi-la”, avalia Alexandre. É necessário, portanto, o bom senso para tomar uma decisão pensando no filho, sempre procurando dividir as datas como natal e Réveillon com equilíbrio de modo a que ele passe alguns dias com o pai e outros com a mãe, de modo a desfrutar e se divertir em ambos os lugares.

Para Cristiane Lima, psicóloga e mestre em constelação familiar, a maneira como a separação ocorre interfere bastante nos combinados que serão feitos em relação aos filhos. “A separação é um desafio que, muitas vezes, perdura por muito tempo e traz muitos prejuízos quando os pais não conseguem conversar e chegar a um denominador comum e pensar no que é melhor para a criança”, ressalta a psicóloga.

Ela diz que a dificuldade em chegar a acordos com o ex-parceiro geralmente está relacionada a mágoas pela separação. “A luta pela criança está mais ligada à dor do que ao que é melhor para criança. É preciso dar conta dos nossos buracos emocionais, enquanto pai e mãe, e entender que o filho tem direito de conviver com a outra parte e respeitar a maneira que o outro tem de lidar com próprias datas e questões”, pontua Cristiane.

A psicóloga Cristiane Lima ressalta importância de “dar conta dos buracos emocionais” e respeitar o ex-parceiro | 📷 Divulgação

Para Alexandre, “uma pergunta a ser feita nesse momento é se os pais não estão fazendo uma queda de braço com essas ocasiões, vendo as festas como um ringue de batalha para decidir quem vai ganhar essa disputa, ao levar a criança para passar o Natal na própria casa ou na casa dos pais”. Se o casal vive competindo pelo tempo com os filhos e tem uma questão litigiosa ainda não resolvida, “melhor obedecer os acordos judiciais para evitar também que isso se torne munição para ataques futuros, judicialmente falando”, destaca o psiquiatra.

Foi pensando no melhor para as crianças que a gerente comercial Priscila Paes de Oliveira, 40 anos, decidiu, em acordo com o ex-marido, que o Natal será celebrado na casa dos pais dele, em Peruíbe, no litoral sul de São Paulo. Por ser um destino de praia e perto da capital paulista, onde vivem, o ex-casal achou mais atrativo que o filho em comum, Lucas, 4 anos, e Theo, 14, fruto do primeiro relacionamento de Priscila, fossem para lá na noite do dia 24. Já Priscila irá para a casa da mãe, no interior do Paraná.

“A gente criou um combinado, que eu chamo de regra número 1, cujo lema é ‘tudo pelo bem-estar meninos.’ Toda vez que hesitarmos se fizemos a coisa certa, basta lembrar dessa regra. É ela que nos dá forças para passar por cima de outras coisas e priorizar as crianças”, conta.

Separados há oito meses, após 13 anos de casamento, Priscila diz que mesmo quando estavam juntos, ela e o marido passavam o Natal separados, e as crianças se revezavam entre a casa dos pais dele e a da mãe dela. “A gente se gosta muito, mas, como casal, não estava rolando mais. Então tivemos essa dura missão de nos separar, pelo bem-estar de todo mundo”, conta Priscila.

Separados, porém juntos no Natal, na casa de amigos

Juliana Ferraz e a filha Elisa | 📷 Arquivo pessoal

O Natal da professora e coordenadora pedagógica Juliana Schlatter de Lima Ferraz, 37, e a filha Elisa, 5 anos, que vivem em Sorocaba, no interior de São Paulo, ainda não está definido, mas mesmo sendo separada, a ideia é passar a festa com o ex-marido na casa de amigos em comum, como já fizeram em outros anos.

“No Ano Novo ainda não decidimos, mas é provável que Elisa passe a festa com o pai e não vejo problemas nisso. A gente até incluiu no divórcio um esqueminha para fazer um revezamento nos feriados, mas como temos um bom relacionamento, combinamos sempre de acordo com o que for melhor para a nossa filha”, relata a professora que viveu com o ex-marido um relacionamento de 17 anos, sendo 12 anos de casamento e cinco de namoro. Eles se separaram em maio de 2020, embora seguiram vivendo juntos até setembro do mesmo ano.

Juliana comenta que o fato de manterem uma boa convivência ajuda nas decisões. “Já saramos todas as mágoas e rancores, talvez ele até mais que eu, e entendemos que a separação foi o melhor que podia ter acontecido para nossa família, tem sido maravilhoso estar separada”, afirma a professora.

Ela diz que tinha conflitos com o parceiro devido às diferenças na forma de educar a filha. “Discordávamos em alguns pontos e agora, como cada um tem a sua casa, tem sido mais fácil, inclusive para Elisa entender as regras minhas e do pai. Ela já sabe que cada casa funciona de um jeito”.

Fico insegura, mas entendo a importância de terem esse tempo juntos”

Pela primeira vez, a professora de dança materna, Amanda Mota, passará o Natal longe da filha Alice | 📷 Arquivo pessoal

A professora de dança materna Amanda Mota Andrade Marques, pela primeira vez, neste ano, passará o Natal sem a filha. Alice, 4 anos, irá para o interior de Minas Gerais, onde o pai está morando.

“O máximo de tempo que passamos afastadas foram três dias e é uma cidade mais distante, não tão fácil de chegar, mas ela está super animada, me pergunta com frequência se o Natal já está chegando e diz que tem saudades do pai, o que me deixa mais tranquila”, relata a mãe. Ela diz que Alice ainda não conhece a família do pai. “Era para ela ter ido no ano passado visitá-los, mas por conta da pandemia achei melhor que não fosse”.

Desde o nascimento, os pais nunca viveram juntos, mas Alice via o pai em fins de semana alternados. Com a pandemia, porém, o pai deixou de encontrar a filha. “Ele ficou quase um ano sem vê-la, o que pra mim foi uma desculpa, e agora pediu esse tempo com ela de férias. Fico insegura, mas entendo a importância de terem esse tempo juntos”, afirma Amanda.

Dá para mudar os combinados?
Se nenhuma das partes expressar descontentamento, é sim possível mudar os combinados, salienta Alexandre Valverde. “Porém, não adianta forçar a barra por uma flexibilização, se a outra parte dá claros indícios de que não está contente com o acordo. O combinado prévio é sempre o melhor a ser feito, agora, se a pessoa quer propor a flexibilização, que exponha de maneira clara, sem segundas mensagens”, orienta Alexandre. Para tanto, ele sugere dizer algo como: – Acho que vai ser mais interessante que a gente mude o Natal esse ano para a minha casa, porque estarão lá outras crianças. O que você acha disso? E estar aberto à possibilidade de ouvir um não e respeitar, sem melindres nem pretensões de achar que o ex-parceiro tem que ceder e aceitar a mudança proposta.

Os prejuízos à saúde da criança
A psicóloga Cristiane Lima chama a atenção para os riscos que o filho corre ao ficar no meio das discussões dos pais. “Quando não há respeito, a insatisfação da mãe ou do pai fica no queixume – ‘ah, se você estivesse aqui no Natal…’ – o que gera frustração na criança por não estar ali naquele momento. E se essa prática se torna frequente, pode fazer com que ela se sinta exigida a dar conta de ambas as partes, quando na verdade, tinha de estar sendo cuidada”, relata a psicóloga. Ao longo dos anos, essa exigência pode gerar até doenças físicas, alerta a especialista, como hiperatividade, ansiedade e problemas de relacionamento com os colegas. “Se os pais não conversam, a criança também pode ter dificuldade de expressar os próprios sentimentos, já que estará mais preocupada em atender as necessidades dos pais do que dela própria”.

O caminho mais saudável portanto é permitir que o filho saiba que ele tem ambos os pais, independentemente das datas comemorativas. “E que ela vai vivenciar diferentes experiências, em diferentes espaços, que não são nem melhor nem pior um que os outros, são apenas diferentes”, conclui Cristiane.

Por Verônica Fraidenraich

Já sabe onde vai matricular seu filho para o ano letivo de 2022? O Ícaro Colégio e Curso em Parnamirim é a melhor opção de instituto de ensino da cidade.






Postagem Anterior Próxima Postagem