FAMÍLIA - Meu filho é vegetariano

É notável que o vegetarianismo está aumentando. Há pouco mais de uma década, conhecer uma pessoa vegetariana era raridade, e parecia até coisa de outro mundo, hoje é muito comum conhecer um.

Aqui em casa começou cedo, antes mesmo de completar 7 anos de idade. Meu filho que até então comia carne normalmente começou a perguntar a origem do alimento que estava em seu prato.

Todos os dias vinha a mesma pergunta nas refeições: Mamãe isso é um animal? Conforme ele perguntava eu ia respondendo sempre a verdade.

Inconformado com o fato de estar comendo um "animal morto" começou a deixar de lado no prato toda vez que tinha um "franguinho" ou uma "carninha". Em pouco tempo ele decidiu não comer mais.

Nós nunca mentimos mas também nunca detalhamos a origem daquilo que estava no prato, afinal para nós era natural comer, como foi para mim na infância, para o pai... e muitas gerações.

Mas de onde surgiu tamanha consciência no Pedro?

Na época (2015) ele estava no 1º ano e aprendia sobre pirâmide alimentar e muitas vezes as representações dos alimentos nas tarefas, são de sua origem. É comum ver uma galinha, boi ou peixe quando se fala em alimentação nos livros infantis.

Em fase de alfabetização, Pedro começou a ler rótulos nos mercados. Sim, ele pegava o salgadinho que gostava e lia se tinha carne nos ingredientes.

Muitas coisas que ele amava, como nuggets, frios (peito de perú, presunto)....ele simplesmente deixou de comer.


Aceitação

Mesmo com tanta informação, ainda é difícil a aceitação das pessoas. Muitos estranham e até julgam o fato dos pais permitirem isso. Ou ouvimos frases como: ah é frescura de criança, manda comer e pronto!

Apesar de saber da importância da carne para o organismo (foi o que aprendemos desde sempre), estudos comprovam que é possível viver muito bem sem ela, sendo substituída por verduras, folhas, legumes, grãos e etc.

Hoje é comum ver crianças nascendo em famílias vegetarianas e crescem sem nunca ter experimentado a carne. E são saudáveis!

Na minha opinião, alimentação é um dos maiores desafios da maternidade, desde a introdução alimentar. Vejo que a maior preocupação das mães é o fato da criança não comer bem, ou não comer tal coisa.

Claro que eu também passei pela fase da preocupação, hoje sei que temos que avaliar um conjunto de coisas, afinal comer bem vai muito além do que tem no prato. E, se a criança tá bem e saudável, tá tudo bem.

Acho que muita coisa tá mudando em relação a isso, essa nossa geração de pais e mães está quebrando crenças dos tempos antigos, como leite engrossado, adoçar sucos e mamadeiras, leite materno fraco ou tem que limpar o prato! Minha linda vovó que não está mais entre nós, só queria ver os netos comendo, comendo e comendo. E na infância da minha mãe ainda existia a tortura, "só sai da mesa quando limpar o prato".

Esse assunto foge um pouco do tema, mas está ligado ao respeitar a vontade da criança e também a analisar esse momento da refeição:

Você dá exemplos?

- Você tem que comer brócolis!
- Eu tenho que comer, mas no prato da minha mãe não tem!

Um bom exemplo vale mais que mil palavras...

Sinto isso por aqui, tô aprendendo a me controlar a falar menos. Falei tanto pro Pedro experimentar abobrinha (que ele gostava quando era pequeno e parou de gostar), que hoje ele tem birra só de ouvir falar :-(

Harmonia

Como é o momento da refeição?
Tranquilo, agitado? Uma briga para comer?

Você respeita?

- Coma tudo!
E você adulto, come tudo quando não quer mais?

- Não coma isso ou aquilo por que não é saudável!

O que você sente quando é proibido de comer algo?

Guloseimas, fast food, salgadinhos, refrigerante...
O equilíbrio deve existir. Tudo pode, desde que não haja exageros.

Tudo isso é assunto para outro post, mas o que quero ressaltar aqui é que tem muito da energia que colocamos nos alimentos que comemos. E isso eu vejo claramente no Pedro. Ele é saudável comendo o que ele come, mesmo deixando de comer alimentos considerados importantes, claro, como em toda criança a seletividade existe. Ele é feliz assim, pois em seu interior tem a certeza de que o que ele come é o suficiente.

Se não respeitássemos a decisão dele, causaríamos estresse e energias ruins na alimentação.

Eu admiro muito o Pedro! Além de deixar de comer coisas que ele gostava por pura consciência, ele aprendeu a lidar com pessoas e "amiguinhos" fazendo piadinhas, e nada interferiu na decisão dele. Essa consciência, respeito pelos animais, o torna muito especial.

Muitas pessoas me disseram que era passageiro, mas já são quase 5 anos sem carne.

Hoje ele tem 11 anos e come certa variedade de legumes, verduras, folhas e adora frutas. Ainda há seletividade, mas isso o tempo resolve.


Por Dani Nalini
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