AUTISMO - Pais de autista deixa apartamento sob ameaças e pede ajuda para pagar aluguel


Ameaças de violência física e até de morte foram os motivos que levaram a família da ativista Gabriela Pereira dos Santos a abandonar, desde 4 de junho, o apartamento em que morava no Residencial Carandá.

As intimidações à Família Atípica, como ficou conhecida, partiram de outros moradores do local, após Gaaby, como é chamada, pedir para que os vizinhos deixassem de fumar próximo à sua janela.

O motivo do pedido é muito claro: proteger seu filho, Benyamin Luiz, 8 anos, que é autista, cardiopata, surdo, tem deficiências múltiplas e trissomia do cromossomo 21 (Síndrome de Down), além de crises de ansiedade. Essas condições demandam cuidados especiais, tratamentos e gastos com alimentação e medicação. A família busca, por meio de uma vakinha virtual, angariar recursos para adquirir uma casa que atenda às necessidades de Beny e possibilite o retorno aos cuidados adequados e acompanhamentos médicos.

Fumar cigarro e maconha embaixo da janela da moradora é uma prática comum de um grupo de rapazes que também mora no condomínio de apartamentos populares, segundo ela. Acontece que o residencial possui locais onde é permitido que moradores se reúnam para bater papo, ouvir música, fazer churrasco, mas não na área que o grupo utiliza para suas algazarras.

Após o pedido para que fossem fumar e fazer barulho em outro local, pelo bem-estar do seu filho Beny, Gaaby, que também é autista, o marido Moisés e o menino nunca mais tiveram paz: passaram a ser agredidos verbalmente e ameaçados e, por segurança, resolveram deixar o apartamento.

Sem ter para onde ir, a família conta com a solidariedade de pessoas que a abrigaram em um local que não será divulgado para manter a integridade da família.

Mesmo com medo, 
Gabriela Pereira, resolveu divulgar vídeos em seu Instagram @familiaafroatipica denunciando as ameaças, pedindo ajuda e providências. Ela também compartilha sua história e desafios enfrentados no condomínio em que residiam em Sorocaba, no interior de São Paulo. “Meu marido está ameaçado de morte e resolvemos sair da casa que é nossa para evitar o pior. Hoje estamos vivendo de favor e não temos a menor expectativa de voltar para lá, porque ninguém garante que estaremos seguros”, conta a mãe.

A solução encontrada por Gaaby é alugar um novo local para eles, mas, sem dinheiro para custear um aluguel, conta com a ajuda da sociedade.

Gaaby e o marido Moisés durante transmissão ao vivo em que ela expôs a situação e pediu ajuda. | 📷 Divulgação/Prefeitura de Sorocaba e Reprodução/Redes sociais

Insegurança recorrente

A história vivida pela Gaaby poderia ser apenas mais uma briga de vizinhos, mas não é, já que coloca em evidência a falta de segurança vivida por moradores dentro do Residencial Carandá, no Jardim Caguaçu.

O Carandá é considerado o maior condomínio de apartamentos populares da Região Metropolitana de Sorocaba. O local possui 16 prédios, tem mais de dez mil pessoas morando por lá e está a 13 quilômetros do Centro.

Gaaby, Moisés e Beny moram no condomínio desde 2018, após ela ser sorteada da lista de vagas remanescentes. Desde então, conforme ela, a família vivenciou episódios como brigas, furtos e excessos de todos os tipos praticados lá dentro.

Quando foi ameaçada, Gaaby e o marido chegaram a chamar a polícia, que foi até o local, mas os policiais disseram não poder fazer nada, por se tratar “apenas” de briga de vizinhos.

“Mas essas pessoas nos ameaçaram, assim como se sentem no direito de ameaçar outras pessoas também. Fizemos dois boletins de ocorrência para garantir nossa integridade. Nossa família não foi a única que teve medo de ficar por lá e, infelizmente, não será a última. Uma vizinha já me disse que se nós realmente não voltarmos para o Carandá, ela também irá sair de lá, por medo”, conta a moradora amedrontada.

Enquanto está fora de casa, Gaaby pede a vizinhos que são amigos para olharem o apartamento dela para evitar que seja saqueado. A moradora aproveita para pedir às autoridades mais atenção ao local para que os problemas acabem de vez.


Como ajudar a família

“Não é sobre dinheiro”, diz a mãe de Beny, reforçando que precisa de ajuda financeira, sim, mas que existem outras coisas envolvidas nessa história, como a falta de apoio de grupos de mulheres pretas e feministas da cidade.

“Todo mundo curtiu minha postagem em rede social, mas ninguém veio saber se ainda estamos vivos ou precisamos de ajuda. Nunca imaginamos sair de lá desse jeito, expulsos da própria casa”, critica.

“O dinheiro é importante, pois é o que vai nos proporcionar viver com mais segurança em outro lugar. Mas estamos vivendo mais que o prejuízo financeiro e também o prejuízo psicológico, especialmente para o Beny, que tem sofrido com tudo isso. E ninguém veio nos oferecer nenhum tipo de apoio, seja social, seja psicológico. Como sempre é o pobre ajudando outro pobre. Recebo doações via PIX de R$ 1, R$ 5. Toda a ajuda é importante e bem-vinda para nós, que somos pobres e não temos como arcar com aluguel”, relata.

Gaaby precisa também do apoio de um advogado, já que ela e o marido fizeram dois boletins de ocorrência contando o que vêm sofrendo: um de ameaça e outro por calúnia e difamação, pois ela foi acusada de maltratar seu filho.

O advogado é importante para que eles consigam, via pedido judicial, as gravações das câmeras da portaria do condomínio, local onde Moisés foi cercado por vizinhos e obrigado a apagar imagens que tinha em seu celular e que mostravam as agressões verbais e ameaças sofridas pelo casal.

Quem quiser ajudar a família a pagar o aluguel para um novo lar pode doar qualquer valor para a chave PIX 15 9 8830-0469 (celular), do banco Nubank.

Redação Blog Du Souto/PQ

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