Uma delegação de parlamentares brasileiros de direita aproveitou a semana de recesso "branco" no Congresso - sem votações em plenário e comissões, em virtude do feriado da Proclamação da República - para viajar aos Estados Unidos e relatar a congressistas norte-americanos e à Organização dos Estados Americanos (OEA) erros e abusos cometidos pelo judiciário brasileiro.
Mas a ausência deles em território nacional fez falta na mobilização para os protestos anti-Lula organizados por ativistas no dia 15 de novembro. A participação de políticos em atos públicos ainda está engatinhando desde a onda de prisões consideradas arbitrárias promovidas pelo Supremo Tribunal Federal desde 8 de janeiro.
Os participantes da delegação eram os deputados federais Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Nikolas Ferreira (PL-MG), Julia Zanatta (PL-SC), Altineu Cortês (PL-RJ), Gustavo Gayer (PL-GO), Capitão Alberto Neto (PL-AM) e os senadores Eduardo Girão (Podemos-CE) e Jorge Seif (PL-SC).
Na capital dos Estados Unidos, Washington D.C, deputados e senadores foram recebidos pela deputada republicana Marjorie Greene, do estado da Georgia e grande apoiadora do ex-presidente Donald Trump. Os parlamentares entregaram a ela uma carta em que elencam equívocos do governo brasileiro, como violações de direitos humanos reportados por brasileiros, incluindo a censura de jornalistas e a perseguição de figuras públicas, bem como a situação dos presos do evento de 8 de janeiro.
Greene se destacou entre os republicanos por ser uma das maiores apoiadoras de um pedido de nova investigação do caso da invasão do Capitólio por partidários de Trump em 2021 que resultou em quase 1.500 pessoas investigadas. Ela defende que "o outro lado da história" não teve a devida atenção.
A delegação ouviu da deputada que os parlamentares brasileiros terão "todo apoio na proteção à liberdade de expressão, eleições limpas e justas e manutenção das relações entre os dois países".
Segundo o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o objetivo da missão brasileira aos Estados Unidos é mostrar aos parlamentares daquele país coisas que não chegam lá da forma correta pela mídia, como casos de censura, cerceamento à liberdade de expressão e outros abusos praticados pelo governo do Brasil.
O senador Magno Malta (PL-ES) reforça o que afirma Eduardo Bolsonaro, e afirma que "estamos aqui exatamente na tentativa que o mundo saiba que o Brasil vive um abuso pleno de autoridade. O que nós vivemos na semana passada votando a reforma tributária [no Senado Federal], na verdade formou-se um cerco ideológico. Nós não mudamos de um presidente para outro, houve uma mudança de regime".
Para o senador, é preciso que o mundo saiba sobre os casos de censura enfrentados hoje no Brasil, e ainda sobre os frequentes episódios de intervenção e desrespeito de um poder para com o outro, se referindo às interferências do Judiciário no Legislativo, com a análise de temas que são de competência do Congresso Nacional.
Delegação brasileira se reúne com o polêmico George Santos
Além da deputada Marjorie Greene, a delegação do Brasil esteve com o parlamentar republicano George Santos, de origem brasileira, que chegou a ser preso em maio nos Estados Unidos depois de enfrentar processos por uma série de crimes, como fraude eletrônica, declarações falsas e lavagem de dinheiro, mas acabou sendo solto após pagar fiança de US$ 500 mil, cerca de R$ 2,5 milhões.
Nenhum dos parlamentares brasileiros explicou o motivo do encontro.
Na mesma semana da visita dos brasileiros, George Santos foi alvo de relatório do Comitê de Ética da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, o equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil; e que apontou "evidências substanciais" de que o parlamentar violou leis federais. Após a divulgação do relatório, nesta quinta-feira (16), Santos disse que não pretende disputar a reeleição para o cargo que ocupa.
A série de reuniões da delegação também contou com encontros com o congressista republicano Chris Smith, membro do Comitê de Assuntos Internacionais da Câmara dos Representantes, e Steve Scalise, o recém-eleito líder da maioria, cargo similar ao do presidente da Câmara no Brasil. Ambos se mostraram receptivos às questões levantadas pelos parlamentares brasileiros e manifestaram disposição para fortalecer a cooperação bilateral.
Movimentos se ressentem da ausência de parlamentares em manifestações
Enquanto a delegação brasileira busca apoio de parlamentares norte-americanos para conter os abusos, no Brasil ocorreram manifestações "fora Lula" em diversas cidades, chamadas por movimentos e influenciadores de direita pelas redes sociais, mas com baixa adesão da classe política.
Na capital norte-americana, onde visitaram parlamentares, Eduardo Bolsonaro chegou a dizer que "nós estamos cientes das manifestações que estão ocorrendo no Brasil", mas justificou a ausência alegando que em virtude do feriado prolongado, e à semana morna no Congresso brasileiro, para dizer que "a gente está aproveitando esse feriado de 15 de novembro para estar aqui trabalhando".
Para o ativista Adilson Zambotti, que participou da coordenação do ato "fora Lula" em São Paulo, o saldo do movimento foi considerado positivo, principalmente no Norte e Nordeste, além de Brasília, especialmente depois do temor da população de voltar às ruais depois dos episódios de 8 de janeiro, e mesmo com a falta dos políticos.
"Teve alguns parlamentares que falaram da necessidade de ir para as ruas, e nós não tivemos essa união com eles, enviamos convites para vários deputados de direita, mas a maioria não compareceu. Então faltou a presença dos políticos", concluiu.
Mesmo assim, o ativista diz que é preciso entender que "cada parlamentar vive uma vida diferente, mas cada um tem sua vida, pautada nos seus princípios, no seu timing". Ainda de acordo com ele, nesse momento, a questão de pedir o "fora Lula" ainda vai precisar de mais tempo, com provas que possam fundamentar um processo de impeachment, o que não impede que a população volte às ruas para reforçar o movimento.
Por Tatiana Azevedo/GP