BRASIL - Partidos iniciam estratégias para eleições presidenciais de 2026 apesar de cenário turbulento

Depois do embate nas eleições municipais, o governador Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL0 seguirão na disputa para liderar a direita em 2026. | 📷 Isac Nóbrega/PR

Faltando menos de dois anos para as eleições presidenciais de outubro de 2026, os principais partidos brasileiros já articulam estratégias para viabilizar candidaturas, mesmo em meio a crises políticas e instabilidades. A mais recente envolve o inquérito da Polícia Federal (PF) sobre suposta conspiração golpista, centrado na figura do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que ampliou as incertezas no cenário político.

Enquanto novos pré-candidatos buscam tração em suas campanhas, outras articulações tratam de consolidar alternativas. No campo conservador, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), terá a pré-candidatura lançada oficialmente em março, durante evento em Salvador. Ele desponta como nome que pode atrair o eleitor de direita e de centro.

Analistas indicam que Jair Bolsonaro enfrenta grandes obstáculos para ser candidato em 2026, sobretudo após ser indiciado como líder de organização criminosa acusada de planejar golpe de Estado após a derrota eleitoral em 2022 – acusação que ele nega. Mesmo inelegível até 2030, Bolsonaro cogita registrar candidatura em 2026 para mobilizar a sua base.

Nesse cenário, um de seus filhos —Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ou Flávio Bolsonaro (PL-RJ) — seria indicado como seu vice, mas poderia se tornar a cabeça da chapa. Eduardo, deputado federal por PL de São Paulo, é pré-candidato ao Senado e mantém estreitas ligações com o provável governo de Donald Trump nos Estados Unidos.

Flávio, senador pelo PL do Rio de Janeiro, reafirmou em artigo publicado na rede social X que seu pai seria a única liderança capaz de derrotar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2026, quando deverá buscar a reeleição e seu quarto mandato.

Pesquisa da Paraná Pesquisas divulgada na quarta-feira (27) mostra que, se as eleições fossem hoje, Jair Bolsonaro lideraria com 37,6% das intenções de voto, enquanto Lula ficaria com 33,6%. Em cenários de segundo turno, Lula enfrentaria empates técnicos com Bolsonaro, Michelle Bolsonaro (PL) e Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Pesquisa mostra teto de votos para Lula, que pode perder para uma direita unida

O cientista político Leonardo Barreto avalia que o cenário reflete mais uma dificuldade de crescimento para Lula do que avanços expressivos dos adversários. Segundo Barreto, a base fiel de eleitores de Lula é insuficiente para assegurar a vitória em um eventual segundo turno, onde as forças antipetistas tendem a se unificar.

Enquanto isso, lideranças como Ciro Nogueira (PP-PI) e Gilberto Kassab (PSD) trabalham para apresentar nomes alternativos no campo da direita. Kassab tenta convencer o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, a priorizar a reeleição, enquanto negocia alianças com o PT e o PL. Já Ciro Nogueira sinaliza o nome da senadora Tereza Cristina (PP-MT) como uma possível candidata.

Dependente de Lula, esquerda poderá testar outros nomes ao Planalto em 2025

No campo da esquerda, a principal aposta segue sendo a reeleição de Lula. A estratégia envolve parcerias com o Judiciário para garantir a aprovação de políticas e projetos no Congresso, enquanto busca neutralizar avanços conservadores.

Outro pilar importante é a conciliação entre o ajuste nas contas públicas e a liberação de recursos para investimentos em infraestrutura e programas sociais, fundamentais para manter o apoio popular. Analistas apontam que um equilíbrio fiscal, ainda ausente no atual mandato, será crucial para preservar a confiança do mercado e evitar maiores instabilidades econômicas.

O anúncio atrasado e com tom populista do pacote de corte de gastos na noite da quarta-feira (27), que destacou a proposta de renúncia de receita de dezenas de bilhões de reais com a elevação da faixa de isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, emitiu sinal contrário e ampliou a desconfiança do Congresso e dos agentes econômicos.

Para o cientista político Ismael Almeida, ainda é prematuro determinar o impacto das insatisfações geradas pelo pacote fiscal anunciado por Fernando Haddad, tanto para a direita quanto para a esquerda, no calendário eleitoral. “O que é certo, no entanto, é que o governo perdeu mais uma oportunidade de demonstrar compromisso com a sustentabilidade fiscal de longo prazo”, afirmou.

Ele acrescenta que o mal-estar provocado pelas medidas insuficientes e contraditórias adotadas pelo governo como resposta aos crescentes déficits fiscais continuará impactando a economia real, refletindo em juros elevados e inflação persistente. Segundo Almeida, esses fatores pesam decisivamente na escolha do voto, especialmente entre os mais pobres.

Até mesmo a especulação de que as medidas, apresentadas em pronunciamento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), serviriam para projetar uma candidatura dele pareceu frustrada com as repercussões negativas.

Dentro do governo, surgem, além de Haddad, outros nomes alternativos a Lula, como o ministro da Educação, Camilo Santana (PT-CE), que se destacou politicamente após as eleições municipais. Além disso, o ministro Wellington Dias, do Desenvolvimento Social, pode ganhar força com a ampliação do programa Auxílio Gás em 2025.

Em meio a sinais contraditórios se levará ou não adiante sua candidatura à reeleição, Lula precisará, de toda forma, consolidar sua base política nos próximos dois anos. A reforma ministerial, pressionada por disputas nas pastas da Saúde, Agricultura, Minas e Energia e Casa Civil, é vista como um ponto central para garantir avanços na agenda fiscal e recomposição do orçamento federal.

A relação tensa entre Executivo e Legislativo, contudo, continua a demandar negociações constantes, dificultando a aprovação de pautas estratégicas. Assim, partidos e candidatos já ajustam suas peças no tabuleiro, de olho em 2026, em um jogo político que promete ser um dos mais polarizados e disputados da história recente.

Para especialista, mesmo inelegível, Bolsonaro tem vantagem sobre Caiado

O professor e cientista político Elton Gomes dos Reis observa que, na preparação para a próxima corrida ao Palácio do Planalto, os partidos têm priorizado arranjos institucionais em detrimento do diálogo direto com a sociedade, ajustando-se às mudanças no cenário político.

“A direita permite o surgimento de nomes como Ronaldo Caiado, mas o governador ainda está longe de alcançar a projeção e o carisma de Bolsonaro. Sua estratégia parece ser resolver a fragmentação no campo conservador, enquanto o ex-presidente usa seu capital político para manter influência, mesmo sem conseguir reverter sua inelegibilidade”, explicou.

Reis também destaca que a busca por uma alternativa viável à liderança de Bolsonaro acaba beneficiando o próprio, que demonstrou maior capacidade de transferência de votos do que Lula nas eleições municipais. Nesse contexto, ele acredita que Tarcísio de Freitas pode ser o escolhido para representar Bolsonaro, já que é o segundo mais forte eleitoralmente e mais próximo do ex-presidente dentro do campo conservador.

Desarranjo fiscal e inflação em alta podem ser ameaças para Lula no ano eleitoral

Sobre a estratégia de Lula, Elton Reis aponta para as vulnerabilidades geradas pelo delicado equilíbrio entre ajuste fiscal e programas sociais. Sem avanços concretos nessa frente, o petista poderá enfrentar turbulências econômicas às vésperas do ano eleitoral.

Ele alerta que, historicamente, a economia tem um peso decisivo no comportamento dos eleitores, como exemplificado pela recente eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. “Eleitores votam com o bolso. Desarranjos fiscais e inflação caminham lado a lado e podem custar caro politicamente”, concluiu.

Por Silvio Ribas/GP

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