Polícia Federal investiga quadrilha chinesa responsável por lavar dinheiro e enviar recursos para o exterior ilegalmente. | 📷 Marcelo Camargo/Agência Brasil
Um grupo de chineses é suspeito de comandar parcialmente o gerenciamento de um banco com movimentações bilionárias no Brasil, que encaminhou irregularmente muito dinheiro a outros países e aplicou crimes financeiros na casa dos R$ 6 bilhões nos últimos cincos anos, segundo a Polícia Federal (PF).
O esquema ocorreria por meio de uma associação de um grupo chinês com organizações criminosas voltadas ao tráfico e contrabando. Haveria ainda uma possível ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC). De acordo com a Polícia Federal, um dos donos do banco seria um policial civil do estado de São Paulo. O policial apareceu, inclusive, em uma delação premiada contra o PCC, fechada pelo empresário Vinicius Gritzbach, que foi morto a tiros em 8 de novembro do ano passado no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.
A investigação aponta que nem todas as operações do banco são ilegais. O esquema começou há mais de dois anos. Há indícios de envolvimento no suposto esquema fraudulento de quadrilhas especializadas no tráfico de drogas, de armas e no contrabando.
Parta chegar ao montante bilionário das fraudes, a PF rastreou cerca de R$ 120 bilhões em movimentações financeiras entre operações de débito e crédito. Gerentes bancários e contadores também são suspeitos de integrar o esquema. Dezesseis pessoas foram presas no fim de novembro de 2024, suspeitas de operarem o esquema fraudulento.
Segundo as investigações, a organização atuou em pelo menos 15 países, muitos considerados paraísos fiscais, onde eram realizadas lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Durante esse período, os valores bilionários circularam, de acordo com a PF, além do Brasil para: China e Hong Kong, Estados Unidos, Canadá, Panamá, Argentina, Bolívia, Colômbia, Paraguai, Peru, Holanda, Inglaterra, Itália, Turquia e Emirados Árabes.
Segundo a PF, o banco oferecia serviços a interessados em geral, inclusive a quem tinha como objetivo driblar o fisco e praticar evasão de divisas. Por esse motivo, a Receita Federal participa das análises fiscais.
Fraudes representam aperfeiçoamento dos serviços de doleiros
Segundo a PF, o esquema representa um aperfeiçoamento dos trabalhos de doleiros para atender qualquer pessoa que tivesse como objetivo ocultar capital, lavar dinheiro, enviar ou receber valores do ou ao exterior e para isso eram utilizadas ao menos três fintechs. Não foi divulgada a relação de todas elas. Sabe-se apenas que o banco supostamente comandado em parte por chineses e que teria um policial civil como proprietário seria o 2 Go Bank.
O banco disse ao portal Gazeta do Povo que a “instituição de pagamento segue rigorosas políticas de compliance, anticorrupção e de combate à lavagem de dinheiro, que obedecem aos padrões de mercado mais elevados — todas públicas, disponíveis em seu site”. “A 2GO acrescenta que está colaborando com as investigações e segue à disposição das autoridades”.
O policial civil do estado de São Paulo estaria na relação de delatados, por corrupção, apontado pelo empresário Vinicius Gritzbach. Somente no ano passado, o homem apontado como o líder do grupo teria movimentado cerca de R$ 800 milhões.
À Gazeta do Povo, a Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) disse que o policial civil está afastado de suas funções desde dezembro de 2022. “A Corregedoria da Polícia Civil, que também apura os fatos, acompanha os desdobramentos da operação (...) e está à disposição da Polícia Federal para colaborar com as investigações”.
A reportagem procurou a defesa do policial civil, mas até a publicação da reportagem não obteve retorno. O espaço segue aberto às manifestações.
Em uma operação deflagrada pela PF de Campinas (SP) no fim de novembro, na qual o policial suspeito e outras 15 pessoas tiveram prisão preventiva decretada, foram apreendidos R$ 1,5 milhão em dinheiro e a Justiça Federal autorizou o bloqueio de R$ 10 bilhões em mais de 200 empresas suspeitas de atuarem em favor do bando.
Como eram feitas as transações bancárias ilegais
Segundo o inquérito policial, o principal objetivo era enviar remessas para o território chinês ocultando capitais, lavando dinheiro ou burlando a fiscalização e taxações no envio e recebimento internacional de dinheiro. Para essas transações, revela a PF, a suposta organização criminosa usava meios como:
Boletagem: Com emissão de boletos é possível oferecer serviços de intermediação financeira e usar boletos para "esquentar" valores, criando a aparência de transações comerciais legítimas.
Empresas de fachada: organizações fictícias criadas para disfarçar operações ilegais, ocultar recursos financeiros ou facilitar crimes como lavagem de dinheiro, corrupção e evasão fiscal.
Laranjas: em um esquema criminoso são pessoas que emprestam seus nomes ou dados para ocultar os verdadeiros responsáveis por atividades ilegais.
Falsificação de documentos de importação e exportação: criminosos se aproveitam da complexidade da burucracia do comércio internacional para falsificar documentos e evitar a apreensão de mercadorias pelas autoridades.
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