SÃO PAULO - Soldado denuncia tortura até vomitar sangue em quartel do Exército

Soldado de 19 anos diz ter sido torturado após informar aos superiores que havia perdido a fivela do fardamento. Exército abriu sindicância



Um soldado do Exército registrou boletim de ocorrência relatando ter sofrido agressões em um quartel em Barueri, na Grande São Paulo, após perder a fivela do cinto do uniforme. O caso aconteceu em 10 de março, duas semanas depois da formatura do soldado na corporação. De acordo com o relato do jovem, de 19 anos, a violência provocou dores e vômito de sangue.

O que aconteceu?
  • Valdir De Oliveira Franco Filho, de 19 anos, relatou à polícia que sofreu agressões verbais e psicológicas desde a formatura.
  • Em 10 de março, quando informou aos superiores que perdeu uma fivela do fardamento, foi levado a uma sala sem iluminação e sem supervisão de testemunhas ou câmeras. No local, ele foi forçado a pagar flexões enquanto levava chutes de coturno no peito, “sendo questionado de maneira grosseira, o quanto custava a fivela”, diz o BO.
  • No mesmo dia, voltou ao treinamento físico e sentiu gosto de sangue na boca. Ainda assim, o jovem foi instruído a continuar o exercício, o que teria lhe gerado fortes dores de cabeça.
  • À noite, foi trancado no quarto. No dia seguinte, foi levado a praticar, mais uma vez, atividades físicas intensas, o que gerou mais dores. Com os sintomas, Valdir foi encaminhado ao Hospital do Serviço de Assistência Médica de Barueri (Sameb) sem que seus familiares fossem avisados.
  • Após retornar ao quartel, foi obrigado a jantar em três minutos, o que fez com que vomitasse a refeição e, em seguida, sangue “em excesso”.
  • Valdir foi novamente encaminhado ao Hospital Sameb e dispensado com a indicação de tirar três dias de repouso. O Exército não teria acatado a recomendação médica.
  • No dia seguinte, já em 12 de março, o soldado foi levado ao Hospital Militar de Área de São Paulo (HMASP), no bairro do Cambuci, em São Paulo. “Todos exames foram feitos e o mesmo não possui doenças de base, o que leva a doenças geradas por agressão e maus-tratos”, finaliza o BO.
  • O caso foi registrado como maus-tratos no 1º Distrito Policial (DP) de Barueri.
Tortura

O advogado do soldado afirmou ao portal Metrópoles que Valmir “viveu dias de tortura no alojamento do Exército, o qual se apresentou para cumprir um dever cívico”.

Segundo Eduardo Barbosa, o jovem sofreu agressões físicas e psicológicas, que deixaram “sequelas pro resto da vida”.

A reportagem contatou Valmir, que foi impedido de conceder entrevistas por estar sofrendo fortes dores. Um novo contato será feito.

Esperando tratamento

O jovem pode recuperar o movimento das pernas caso receba o tratamento adequado — o que ele espera receber dos médicos do Exército.

“Eles [superiores do Exército] falaram que os médicos iriam aparecer aqui para começar o tratamento e até agora nada. Falaram que ainda essa semana o médico ia aparecer”, disse o soldado.


O que diz o Exército

Em nota, o Exército afirmou que, que durante o soldado apresentou mal-estar durante o expediente do dia 12 de março, e foi prontamente encaminhado ao Posto Médico do Arsenal de Guerra de São Paulo e, em seguida, foi transferido para o Serviço de Assistência Médica de Barueri (SAMEB), onde recebeu atendimento, recebeu alta e retornou à Organização Militar.

No dia seguinte, 13 de março, o soldado voltou a apresentar os mesmos sintomas e foi encaminhado ao Hospital Militar de Área de São Paulo (HMASP), onde foi submetido aos exames pertinentes e permaneceu internado até o dia 21 de março. Desde então, encontra-se em recuperação em sua residência, seguindo o tratamento prescrito pelos médicos responsáveis, afirmou o Exército.

Segundo as Forças Armadas, desde o momento em que foi constatado que não se encontrava em plenas condições de saúde, o militar vem recebendo do Exército Brasileiro a devida assistência médica.

“Assim que tomou conhecimento do relato narrado na solicitação, em 17 de abril de 2025, o Arsenal de Guerra de São Paulo instaurou uma sindicância para apurar os fatos. Até o momento, não há qualquer indício de ocorrência de crime no interior daquela Organização Militar. Por fim, o Exército Brasileiro reitera seu compromisso com a observância rigorosa dos preceitos legais, dos princípios éticos e dos valores morais que norteiam a conduta de todos os seus integrantes”, finaliza a nota.

Metrópoles/Blog Du Souto

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